O mendigo

A rua estava nua, poucos veículos passavam por ali, o desespero era vago perto do frio que me consumia. Por ali passava um mendigo, com boa aparência e tom de sabido, me disse que deveria andar mais algumas esquinas para encontrar o que eu procurava. Não de atenção, segui meus caminhos surdos e sem expressão, sumi e me calei.
A rua continuava nua, cinzenta, surda e sem expressão, olho ao longe e conseguia captar uma imagem familiar, porém desencontrada com os meus profundos pensamentos de busca; mais perto estava lá, novamente o mendigo, desta vez mais sério e com um tom de reprovação, dizendo – “Retorne, e acharás o que procuras.” – tive medo de que esta situação fosse algum teste mandado por Deus para que eu mudasse meu rumo. Retornei, realmente não lembrava mais o que eu buscava, os pensamentos profundos desapareceram como se nunca tivessem existido, me desprendi então à busca a fim de acalmar o pensamento e sossegar a alma, mesmo assim atento ao que viria me encontrar.
Cantei, cantei pelas ruas, pois meu ego flutuava por motivos desconhecidos, saltitante e serelepe, senti atrás de mim uma forte respiração, havia alguém me seguindo. Ah! Como me faz feliz saber que meu canto te encantou, sonhei com o seu rosto, saboreei imaginariamente os seus beijos e todos os dias disse que te amo, mesmo não tendo te encontrado. Quem diria, o mendigo, que se sabe lá se é realmente digo, destinara meu coração a ti, como se fosse divino, como se fosse cupido. Olhei com o canto dos olhos e como te quis, como te amei. Parei a canção, respirei fundo e seus olhos me acorrentaram, desde aquele dia estou contigo, e por te ter agora, meu, eternamente, repito aqui como jura do que o destino me trouxera o que me dissestes em tom lento, a primeira frase, meu primeiro encanto – “Ouvi teu canto, derramei meu pranto, pois encontrei o que procurava. Bendito mendigo que em boa hora chegava.”

G' Porto