segunda-feira, 7 de junho de 2010

Desequilíbrio


Estou atrasado.
Havia ontem um sono profundo mas fiz o favor de acabar com a alegria dele após duas xícaras de café requentado. Passei uma madrugada inteira de perturbação emocional, aquele famoso misto de êxtase com qualquer tipo de energético, embrulhando meu estômago que ora ou outra estava frio por dentro, por sentimento; adormeci e já era dia.
Estou atrasado.
Precisei correr mesmo com as pálpebras caindo induzidas pelo sono, mas continuo atrasado, arrasado e com o sentido das coisas totalmente embaralhados.
É de manhã, mas ainda não supri minha dose de insanidade diária, o que eu mais quero agora é uma dose de conhaque de quinta categoria para sanar a indecência de viver. Nada é totalmente irrelevante, contudo meu concretismo é inexorável, e minhas palavras são adubo para tal perturbação emocional.
Já ouvi dizer que "Viver ultrapassa qualquer entendimento", única prova de que quanto mais eu penso na vida, mais detesto a essência com a qual ela foi arquitetada.
Espere um instante, ainda estou atrasado, não cheguei ao meu destino e corro o risco de chegar tarde demais.
- Não importa, mais uma dose dessa droga e você fica daquele jeito.
- Importa sim, apresse-se, não olhe para os lados, existe uma parte positiva em cada contexto ruim.
E essas vozes ao pé do meu ouvido que me perturbam mais ainda e não posso evitá-las, é mais forte do que eu.
- Será que é depressão? Algum estado de falta de solidez da mente? Loucura? Nem pensar, só um momento de reflexão. Há muito mais sentido na minha loucura do que na sua estabilidade emocional, afinal, eu prefiro buscar nas idéias o motivo do meu atraso, enquanto você apenas se atrasa porque perdeu o horário.
Estou atrasado, tomei meu conhaque barato, usei aquela maldita droga e agora posso ir de encontro ao meu caráter, e fingir que minha vida é tão normal quanto a sua, a dele, a de quase todos.
Os loucos sabem realmente para o que vieram e sabem que a loucura sempre esteve dentro de si, só não foi exposta pela sociedade não louca que um dia regrou a sua vida à normalidade.
- Sem recentimentos pelo meu atraso?
- Agora vou fazer a minha refeição do meio período... Dê-me uma dose de pinga pinga pura, dois pãezinhos e um chocolate quente.
Viu? Eu ainda sei ser normal.

Um comentário:

  1. Temos coisas em comum quando escrevemos, embora postamos no "papel" de uma forma completamente diferente. Você escreve diálogos, situações em narração... puts, acho fantástico... e temos em comum a sensibilidade dos personagens.

    Lindo mesmo, ah, muito obrigado pelo carinho viu!

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